terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Os Passos do Diabo – Parte IV - Encontros

Aqui vão alguns dos inúmeros registros de encontros com o Diabo de Jersey através da história:
Em 1778, o comodoro Stephen Decatur, um herói naval, visitou o Hanover Iron Works nos Barrens para fazer testes de disparos de canhão, onde ele supostamente avistou uma criatura voando no céu, acima de onde estava. Usando um dos canhões Decatur supostamente atingiu a asa da criatura, rompendo a membrana, mas ela continuou voando, para a surpresa dos observadores. O problema com este relato é que Decatur nasceu no ano de 1779, e se este incidente de fato ocorreu deve ter sido entre 1816 e 1820, quando Decatur era o Comissário Naval responsável pelos testes dos equipamentos usados na construção dos novos navios de batalha.


Uma suposta aparição do diabo (Fonte: portallsobrenatural)

Em 1840 o Diabo foi acusado de ser o responsável pela matança de vários animais de rebanhos. Ataques similares foram registrados em 1841, acompanhados de rastros estranhos e gritos sobrenaturais. Em 1859 o Diabo fez uma aparição em Haddonfield. Bridgeton foi testemunha de uma série de avistamentos durante o inverno de 1873. Mais ou menos em 1887 o Diabo de Jersey foi avistado próximo de uma casa e apavorou uma criança, que chamou o Diabo de "aquilo"; ele também foi avistado nas florestas logo depois deste episódio e, assim como aconteceu no encontro de Decatur, ele foi alvejado na asa direita, mas continuou voando.
Em 1820, o irmão mais velho de Napoleão Bonaparte, Joseph, supostamente avistou a criatura enquanto caçava.
Agora, foi no mês de Janeiro de 1909 que houve o maior número de avistamentos do Diabo jamais registrado. Milhares de pessoas disseram ter sido testemunhas da existência da criatura na semana dos dias 16 ao 23. Jornais do país inteiro acompanhavam as histórias e publicavam os relatos:
Sábado, dia 16 - A criatura foi avistada voando sobre Woodbury.
Domingo, dia 17 - Em Bristol, na Pensilvânia, várias pessoas viram a criatura e rastros foram encontrados na neve no dia seguinte.
Segunda-Feira, dia 18 - Burlington amanheceu coberta de rastros estranhos que pareciam desafiar a lógica; alguns foram encontrados em telhados, enquanto outros começavam e terminavam abruptamente, aparentemente sem uma origem ou destino. Pegadas semelhantes foram encontradas em várias outras cidades.
Terça-Feira, dia 19 - Nelson Evans e sua esposa, em Gloucester, disseram ver a criatura do lado de fora de sua janela, às 2:30 da manhã.
O registro do acontecido, dado por Evans é o seguinte: "Aquilo tinha aproximadamente 2,40m, a cabeça parecia a de um cão collie e tinha cara de cavalo. Um pescoço longo, asas com 60 centímetros de comprimento e suas pernas traseiras pareciam com a de um grou e tinha cascos como os de um cavalo. Andava em suas patas traseiras e tinha duas patas menores, como pequenos braços, com patas nas extremidades. Aquilo se movia sem o auxilio das patas dianteiras. Minha esposa e eu estávamos apavorados, eu lhes digo, mas eu consegui abrir a janela e gritei "XÔÔÔÔÔÔ!", então aquilo se virou para mim, latiu e voou para longe.

(Fonte: newanimal)
Dois caçadores de Gloucester seguiram os rastros da criatura por mais de trinta quilômetros, as pegadas pareciam pular por cima de cercas e se espremer por vãos de 20cm. Trilhas similares foram encontradas em várias outras cidades.
Quarta-Feira, dia 20 - Em Haddonfield e Collingswoow organizaram grupos para encontrar o Diabo. Eles supostamente viram a criatura voar em direção de Moorestown, onde foi avistada depois por mais duas pessoas.
Quinta-Feira, dia 21 - A criatura atacou um bondinho em Haddon Heights, mas foi afugentada. Bondes em várias outras cidades começaram a contratar o serviço de guardas armados, e vários fazendeiros encontraram suas galinhas mortas. Existe um registro que indica que o Diabo se chocou com um trem elétrico em Clayton, mas não foi morto. Um operador de telégrafo, próximo a Atlantic City disse que atirou no Diabo apenas para vê-lo fugir mancando e se embrenhar na floresta. Aparentemente a criatura não foi posta de ação e continuou sua marcha através da Filadélfia, Pensilvânia e West Collingswood, Nova Jersey (onde supostamente foi atingido por jatos d'água atirados pelo departamento de bombeiros local). O Diabo parecia pronto para atacar qualquer um que se aproximasse, as pessoas se defendiam atirando qualquer objeto que tivessem à mão contra ele. A criatura então subitamente fugiu voando - e foi avistada então em Camden onde feriu um cachorro, arrancando um pedaço da bochecha do animal, que foi salvo pelo dono ao espantá-la. Sexta-Feira, dia 22 - O último dia dos avistamentos. Muitas cidades estavam em pânico, com muitas lojas e escolas fechadas por medo da criatura.
Durante este período o Zoológico da Filadélfia ofereceu uma recompensa de U$ 1.000.000 de dólares para quem capturasse a criatura. A proposta criou um sem número de fraudes, inclusive um canguru com asas artificiais. A recompensa está disponível até os dias de hoje.
Além desses encontros a criatura foi avistada voando sobre várias outras cidades. Desde a semana do terror em 1909 os avistamentos se tornaram muito menos frequentes.
Em 1951 houve um novo pânico em Gibbstown, Nova Jersey, depois que alguns garotos afirmaram ter visto um monstro humanóide que gritava.
Uma carcaça bizarra em decomposição que lembrava vagamente as descrições do Diabo de Jersey foi encontrada em 1957, fazendo muitas pessoas acreditarem que a criatura havia morrido. Entretanto desde aquele ano surgiram novos relatos de encontros e avistamentos.
Em 1960, os comerciantes de Camden ofereceram uma recompensa de U$10.000 dólares pela captura da criatura, chegando a oferecer a criação de uma jaula especial para guardar e exibi-la quando fosse capturada. Esta recompensa permanece até os dias de hoje.
Em 1991 um entregador de pizzas em Edison, Nova Jersey, descreveu um encontro com uma criatura branca com características equinas.
Em Freehold, no ano de 2007, uma mulher supostamente avistou uma criatura enorme, com asas semelhantes às de um morcego, próxima de sua casa. Em Agosto do mesmo ano um jovem dirigindo para casa, perto da divisa estadual de Mount Laurel e Moorestown, em Nova Jersey, registrou um encontro semelhante, dizendo que viu uma "criatura semelhante a um gárgula com asas de morcego parcialmente abertas" enormes, pousada em árvores perto da estrada.
Em 23 de Janeiro de 2008 o Diabo de Jersey foi visto novamente, desta vez em Litchfield, na Pensilvânia, por um residente local que afirma ter visto a criatura sair voando do telhado de seu celeiro.
No dia 18 de Agosto de 2008 surgiram rumores sobre o avistamento do Diabo na Ebenezer Church Road em Rising Sun, Maryland. Três adolescentes em um carro observaram a criatura passar voando perto do pára-brisa e pousando a alguns metros de distância no campo de uma fazenda.
Existem hoje inúmeros sites e revistas como a NJ Devil Hunters  e Weird NJ que catalogam os avistamentos do Diabo.

Freak Show

Cartão sensacionalista divulgado uma foto de um suposto Diabo capturado (Fonte: mortesubita)

Existe um termo em inglês nos circos, feiras e shows de beira de estrada usado para designar um item falso, usado pelo mestre de picadeiro para atrair pessoas para a barraca do show de aberrações. O termo é gaff, é um objeto manipulado, uma falsificação taxidermista ou um objeto trabalhado para iludir as pessoas.
O Diabo de Jersey e os gaffs andaram juntos por muito tempo. Um exemplo é o que ocorreu a mais de cem anos atrás na Filadélfia.
Em 1906 Norman Jefferies, gerente de publicidade do C.A. Brandenburg's Arch Street Museum, na Filadélfia, encontrou um antigo livro que mencionava o filho curioso de Mãe Leeds e teve uma idéia.
Ele era um showman e o público para seus espetáculos estava diminuindo. Jefferies estava procurando a algum tempo por algo que trouxesse a multidão de volta. Infelizmente para ele os jornais da Filadélfia já o conheciam, e sabiam de suas propagandas um tanto quanto exageradas e não iriam cooperar com ele. Então ele plantou a seguinte história em um periódico de uma cidadezinha ao sul de Jersey:
O “Diabo de Jérsei”, que não foi visto por essas partes em quase cem anos, surgiu novamente em suas andanças. A Sra. J. H. Hopkins, esposa de um fazendeiro digno de nosso condado viu, sem sombra de dúvidas, a criatura, próxima do celeiro no Sábado passado e chegando ao celeiro examinou seus rastros na neve."

Jornal divulgando a captura do Diabo de Jersey (Fonte: mortesubita)
A matéria causou uma enorme comoção. Em todos os cantos do estado, homens e mulheres começaram a andar olhando por cima dos ombros e passaram a trancar portas e janelas. Embora se mostrassem céticos em relação à nota, os habitantes de Jersey não queriam correr riscos.
E se o monstro fosse de fato real? Um "expert" da Smithsonian Institute não havia afirmado que "possuía uma teoria há muito estimada de que existem ainda, em cavernas escondidas e esconderijos secretos, lá dentro, no interior da terra, sobreviventes daqueles animais pré-históricos dos quais apenas fósseis restaram na superfície..."? O expert tinha certeza que o Diabo se tratava de um pterodáctilo.
Pouco tempo depois o animal foi capturado por um grupo de fazendeiros. Depois de se certificar que todos os jornais tivessem publicado a notícia, Jefferies levou o Diabo consigo para a Filadélfia e o colocou em uma exibição no Arch Street Museum. A multidão, enorme e sem um senso crítico, olhavam maravilhadas a coisa capturada - que de fato era um canguru com asas de bronze presas nas costas e listras verdes pintadas pelo corpo.
Jefferies confessou em 1929 que ele comprou o animal de um negociante em Buffalo, Nova Iorque, e que depois o soltou em uma floresta no sul de Jersey, onde certamente seria apanhado sem dificuldades.
O Woodbury Daily Times também acabou participando da história, publicando no dia 25 de Dezembro que o fazendeiro William Hyman matou um animal desconhecido depois que ele invadiu seu galinheiro. Hyman descreve a fera, dizia a notícia "como sendo tão grande quanto um airedale adulto, sua pelagem negra parecia com lã, Pulava como um canguru, com as patas traseiras muito maiores do que as dianteiras e andava ereto, com uma postura corcunda e suas patas traseiras possuíam quatro dedos ligados por uma membrana de pele.
Entra então, para os registros da criptozoologia mais um ser fantástico que até então só existe por meio de relatos.


            Os passos do Diabo – Parte I


            Os passos do Diabo – Parte II - O Diabo Passeia Novamente


            Os passos do Diabo – Parte III – Origens da Lenda

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Os passos do Diabo – Parte III – Origens da Lenda

Existem muitas origens possíveis para a lenda do Diabo de Jersey. As mais antigas vêm do folclore nativo americano. As tribos Lenni Lenape sempre se referiram à área que cerca Pine Barrens como "Popuessenig", que significa o "Lugar do Dragão", mais tarde exploradores suecos batizaram a região com o nome de Drake Kill, Drake sendo a palavra sueca para dragão, e kill significando canal ou braço de água (rio, córrego, etc.).

(Fonte: phawker)
Curiosamente, as histórias nativas que existiam foram substituídas por uma que se tornou muito popular entre os americanos ligando o Diabo com uma figura histórica conhecida como Mãe Leeds, e ela segue da seguinte forma:
Dizem que quando Mãe Leeds teve seu décimo segundo filho afirmou que se tivesse mais um seria o próprio diabo. E ao chegar o ano de 1735, Mãe Leeds entrou em trabalho de parto. Era uma noite chuvosa e ao redor dela estavam amigas ajudando no trabalho de parto. Supostamente, Mãe Leeds era uma bruxa e dizem que o pai da criança era o diabo em pessoa. Dizem que a criança nasceu normal, com a aparência de um bebê comum, mas então sua forma mudou. O recém nascido se transformou em uma criatura com cascos, uma cabeça de cavalo e uma cauda fendida, o monstro então rosnou e gritou; matou a própria mãe na frente de todos e depois correu para a chaminé por onde fugiu voando. Depois de circular a vila três vezes tomou o rumo do Pines. Em 1740 um clérigo exorcizou o diabo por 100 anos e ele não foi visto de novo até 1890.

(Fonte: thesteampunkempire)
Alguns historiadores identificam a Mãe Leeds como Deborah Leeds, esposa de Japhet Leeds. Essa identificação ganhou certo crédito graças ao testamento de Japhet, que deixou registrado em 1736, o nome de doze filhos. Temos então o sobrenome Leeds ligado a 12 descendentes, o décimo terceiro, que não constaria no documento seria a criatura.

Diabo de Jersey (Fonte: myspace)
Identificando o Diabo

Vários céticos acreditam que o demônio de Jersey não passa de uma manifestação da criatividade dos colonos ingleses. O local de Pine Barrens era evitado pela maioria dos colonos por ser desolado e ameaçador. Por ser relativamente isolado, o Barrens era um refúgio natural para aqueles que desejavam permanecer escondidos como era o caso de dissidentes religiosos, traidores, fugitivos e desertores militares da época colonial. O local denominado Barren é uma região inóspita e estéril que não produz nada, é evitada por todos, e é tida como desagradável. Tais indivíduos formavam grupos solitários chamados pejorativamente de "pineys", dos quais muitos se tornaram bandidos notórios conhecidos como ladrões de pine. Os Pineys foram demonizados ainda mais quando dois estudos de eugenia no início do século XX os mostrou como idiotas congênitos e criminosos. É fácil imaginar o surgimento de contos de monstros horríveis surgindo da combinação dos relatos de animais reais como ursos, a atividade dos pineys e o medo do local.

Pine Barrens (Fonte: dantorop)
Um caso curioso é o do naturalista Tom Brown Jr, que passou várias estações vivendo nos arredores de Pine Barrens. Ele conta as várias ocasiões quando andarilhos apavorados o confundiam com o Diabo de Jersey, depois de cobrir o corpo de lama para se proteger dos insetos.
Não é de se surpreender que a lenda do Diabo de Jersey continue a crescer a cada dia, alimentada por um sem número de relatos de testemunhas de reputação, que dizem ter encontrado a criatura, que vão da era colonial até os dias de hoje.
Muitas especialistas no Diabo de Jersey acreditam que ele pode se tratar de uma espécie rara e não classificada que instintivamente tem medo de humanos e por isso tenta evitá-los ao máximo. Os elementos que suportariam essa teoria incluem a similaridade geral da aparência da criatura (cabeça de cavalo, pescoço e cauda longos, asas de membrana, cascos fendidos e o grito de gelar o sangue), excetuando-se o tamanho e cor. Outro fator que suporta a teoria criptozoológica é o fato de que uma espécie poderia existir por um longo período de tempo, ao contrário de um indivíduo apenas que dificilmente teria uma espectativa de vida beirando os 500 anos.
Além deles existem aqueles que acreditam que muitas pessoas podem observar algum animal nativo e, levadas pelo medo ou pela imaginação, acabam confundindo-o com a figura mítica.

Grou Canadense (Fonte: saudeanimal)
Algumas pessoas acreditam que o Grou Canadense é a criatura que serve de base para as histórias do Diabo de Jersey. O pássaro tem uma envergadura de asas que chega a alcançar 2,10m.

Dimorphodon (Fonte: raresource)

As descrições físicas do Diabo de Jersey parecem ser mais consistentes com alguma espécie de pterossauro como o dimorphodon, cujo nome significa "dentes de duas formas". Era um pterossauro que viveu durante o período Cretáceo há aproximadamente 105 milhões de anos atrás na Inglaterra, caçando insetos velozmente pelos ares, provavelmente viviam em grupos enormes para se protegerem melhor e obterem melhores êxitos nas caçadas.

Hypsignathus monstrosus (Fonte: myths-made-real)
Ainda existem aqueles que o associam com o Hypsignathus monstrosus, uma espécie de morcego da família Pteropodidae. Pode ser encontrada na África Ocidental e Central. Conhecidos também como cabeça-de-martelo, esses morcegos habitam florestas próximas de rios, pântanos e territórios semelhantes para habitar. O problema é que apesar de certa semelhança, o morcego apresenta um tamanho reduzido, variando entre 15 e 20 centímetros de envergadura de asa. Os machos, que são os maiores na espécie alcançam a média de 25 centímetros. Apesar de ser o maior morcego nativo da África, ainda é um animal pequeno se comparado com as descrições de um animal que pode ultrapassar 1,20 metros.

Mesmo assim, sendo real ou uma confusão criada pelos afoitos, muitas pessoas até hoje ainda registram encontros com a criatura. Na última parte desse artigo serão apresentados relatos de pessoas que afirmaram ter avistado a criatura, e fecharei mostrando como muitos utilizam dessa lenda para obter algum tipo de lucro em circos freak.


            Os passos do Diabo – Parte I


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quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Os passos do Diabo – Parte II - O Diabo Passeia Novamente

Na primeira parte deste artigo mostrei a história das supostas pegadas do Diabo que teria surgido em várias localidades da Inglaterra e também de outros países. Nessa parte mostrarei novos relatos sobre a aparição do demônio em algumas regiões.


Representação do Diabo de Nova Jersey (Fonte: shopoflittlehorrors)

O Diabo Passeia Novamente

Em 1957 o To Morrow publicou um caso sob o título de "O Diabo passeia novamente?" O artigo estava assinado por Eric. J. Dingwall, um erudito autor inglês que foi um dos colaboradores do Dr. Alfred Kinsey, bem conhecido por seus trabalhos antropológicos e suas pesquisas sexo-psicológicas. "Entre todas as histórias estranhas que ouvi, escreve o Dr. Dingwall, esta foi uma das mais esquisitas e inexplicáveis."
A história foi contada por um tal "Sr. Wilson". Inglês de nascimento, Wilson veio ainda jovem para a América e prosperou em seus negócios em Nova York. Na quebra da Bolsa, perdeu muito dinheiro. Retornou para a Inglaterra onde se instalou em um vilarejo e montou, em pouco tempo, um bom negócio comercial.
Um dia, numa revista britânica, leu um artigo sobre "os rastros do Diabo", em 1855, em Devon. Como o nome do Dr. Dingwall foi mencionado no artigo, Wilson escreveu-lhe uma carta. Até então ele estava tão dominado por sua aventura, que havia contado somente a três amigos de confiança.
O Dr. Dingwal visitou Wilson para uma entrevista. Wilson apareceu-lhe como um homem de alta estatura, solidamente constituído, de espírito prático. Não era evidentemente “um sonhador que imaginasse histórias inacreditáveis”.

Dr. Dingwall (Fonte: postersguide)
Conta Wilson que, em outubro de 1950, ele decidira tirar férias numa pequena cidade da costa oeste de Devon, onde passara a juventude. No último dia de sua permanência, foi ver a antiga casa de sua família e a praia onde havia brincado quando criança. Esta praia era inteiramente orlada de falésias abruptas. Penetra-se nela por uma passagem estreita entre sob dois rochedos, cuja entrada é barrada por uma alta grade de ferro. No verão, as pessoas que vão a esta praia pagam uma taxa para entrar na caverna. Mas naquela tarde triste de outono a grade já estava fechada para o inverno.
A casa da infância do Sr. Wilson estava próxima. Lembrou-se que seria possível chegar até à praia passando pelo jardim, utilizando uma outra passagem. Tomou esse caminho e cedo se encontrava sobre a areia da praia deserta. O mar atingira a parte mais elevada da praia, porém quando ele chegou a maré era vazante, deixando a areia tão lisa como vidro. Foi então que Wilson fez sua apavorante descoberta.
Uma série de pegadas começava no alto da praia, bem abaixo de uma falésia vertical, e atravessava a praia em linha reta até o mar. Estavam extremamente nítidas "como se fossem esculpidas por um objeto cortante". Espaçadas em cerca de 1,80m, elas pareciam ser os vestígios do casco de um bípede e assemelhando-se muito com o de um forte pônei não-ferrado. Não eram fendidas e eram mais profundas que as pegadas feitas por Wilson, que pesava 80 quilos.

(Fonte: southernbreezes)
Um pormenor perturbou especialmente Wilson: a areia não havia sido "escavada" na borda das pegadas – "dir-se-ia que cada pegada havia sido recortada na areia com ferro quente". Tentou compará-las com as suas, andando ao lado delas, depois tentou saltar de uma marca à outra, mas o passo era maior que o dele, ainda que fosse um homem de alta estatura e longas pernas. Não havia marcas regressando do mar e a estreita praia era limitada em cada extremo por pontas rochosas.
O Dr. Dingwal fez então algumas perguntas que ficaram sem resposta: Qual seria a criatura, terrestre ou marinha, capaz de deixar aquelas marcas? De que tamanho podia ser ela para possuir um passo tão longo? Se fosse animal marinho, por que teria cascos? Se fosse animal terrestre por que teria entrado no mar? Ou teria então asas?
O Sr. Wilson declarou que os rastros eram frescos e que a maré vazante estava justamente além da última pegada da pista. Que teria visto se chegasse um pouco antes? O Dr. Dingwal assinala que semelhantes sinais foram vistos em 1908, nos Estados Unidos, ao longo da costa de Nova Jersey, entre Newark e o cabo May. Elas foram atribuídas ao "Diabo de Jersey". Ele acrescenta: "Existem ainda descrições de marcas como as do casco de um pônei na neve espessa e, também, as pegadas saltam cercas para depois continuarem do outro lado, mesmo quando as barreiras estavam a apenas polegadas umas das outras".
O Dr. Dingwall conclui dizendo que quanto mais se fazem perguntas, mais o mistério se torna desconcertante.


(Fonte: scaryforkids)

Desta vez, um responsável

Em uma noite de Janeiro de 1909 E.P. Weeden acordou abruptamente quando ouviu alguém tentando arrombar a porta de sua casa. Ele fazia parte do conselho da cidade de Trenton, Nova Jersey, EUA. Assustado com o intruso ele correu para o andar de cima de sua casa para olhar o que estava acontecendo. Além do som das investidas contra a porta ele podia ouvir também o som de asas grandes batendo. Ao olhar pela sua janela ele não conseguiu ver o intruso, mas o que viu o apavorou: o que quer que fosse que tentava entrar em sua casa havia deixado um rastro na neve do telhado, e o que quer que a coisa alada fosse ela possuía cascos.
Na mesma noite, "aquilo" deixou pegadas na neve no Arsenal Estadual em Trenton, Nova Jersei. E logo depois John Hartman, na Center Street, conseguiu ver finalmente o responsável pelas pegadas circulando por seu quintal e então desaparecendo na noite. Os residentes de Trenton que viviam perto do rio Delaware foram assustados por sons altos, parecidos com o grito de um gato gigante, e ficaram em casa, com medo de sair para as ruas.
A diferença entre esse caso e os dois relatados anteriormente, é que desta vez a criatura responsável pelas pegadas misteriosas foi avistada, a semelhança é que novamente foram ligadas ao diabo.

Outra representação do Diabo de Jersey (Fonte: robbingraves.deviantart)
O Diabo de Jersey, também conhecido como o Diabo Leeds (Leeds Devil), é uma criatura que muitos acreditam habitar a região de Pine Barrens ao sul de Nova Jersey. A criatura geralmente é descrita como um bípede voador, com cascos, mas além disso as descrições variam, como os seguintes registros mostram:
Russ Muits, Franklinville, NJ.
"Ele andava em suas patas traseiras e estava agachado. As costas tinham pelo menos 1,20m de altura. Sua cor era cinza escuro, e os pêlos lembravam os de rato. Sua cauda parecia com a de um macaco e tinha pelo menos 60 centímetros de comprimento. Eu não consegui ver sua cabeça."
Em 1909 surgem alguns avistamentos como o de George Snyder, em Moorestown, NJ. no dia 20 de janeiro.
"Ele tinha 90 centímetros de altura, pêlos longos e escuros por todo o corpo, braços e mãos como as de um macaco, sua face lembrava a de um cão e possuía cascos fendidos, e uma cauda com 30 centímetros de comprimento."
E então Lewis Boeger, em Haddon Heights, NJ. no dia 21.
"No geral sua aparência lembra a de uma girafa... possui um pescoço longo, e a impressão que tive ao vislumbrar a sua cabeça era a de traços horríveis. Ele possui asas de um bom tamanho, e no escuro, obviamente pareciam ser negras. Suas pernas são longas e de certa forma bem definidas e ficavam na mesma posição que as patas de um ganso quando ele voa... ele parecia ter 1,20m de altura."
Apesar das descrições variarem, vários aspectos se mantém constantes, como o longo pescoço, as asas e os cascos. Muitos dizem que a criatura possui cabeça e cauda parecidas com a de um cavalo, sua altura varia de 90 cm a 2,10m, e claro muitos afirmam que a criatura possui olhos vermelhos que brilham e que são capazes de paralisar um homem. Além disso ela solta gritos agudos, que parecem gritos de queixa como se algo a machucasse.
...
Na próxima parte desse artigo será levantada algumas possíveis origens para o surgimento dessa história.



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segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Os passos do Diabo – Parte I

Este fim de semana assisti ao filme “O Ritual”, baseado no livro The Rite, de Matt Baglio, que conta a história de um seminarista reticente sendo enviado até o Vaticano para participar de um curso de exorcismo. Baglio era um jornalista que conviveu com clérigos especializados em expulsar demônios e, aproveitando-se dessa experiência, decidiu escrever um livro relatando a trajetória do padre Gary Thomas (que no filme se chamava Michael Novak), numa época em que a Santa Sé alardeava suas pretensões de colocar em cada uma de suas dioceses um exorcista. No filme, Novak, em sua estadia na Itália, conhece um dos únicos exorcistas em atividade, o padre Lucas, e daí começa um embate entre as forças do bem e do mal, entre a fé e o ceticismo e entre a religião e a ciência.


Representação de Baal (Fonte: turso.terra)

Pesquisando a respeito do filme descobri um fato curioso: uma das cenas do filme foi baseada numa obscura história que aconteceu na cidade de Devon, Inglaterra. A cena mostra o padre Novak perturbado com algumas alucinações que faziam referência ao demônio que lhe perseguia. Saindo do seu aposento e chegando na rua ele se depara com o chão coberto de gelo e pegadas de ferradura que saíam da casa onde ele tinha se estabelecido. Ao investigar as pegadas ele se depara com um demônio conhecido como Mulo, metamorfoseado num jumento e que o encara assustadoramente. Depois do baque de topar de frente com a criatura, ele se vê no mesmo local, sozinho e assustado, sem o gelo cobrindo o chão e sem as pegadas do jumento.
Achei um ótimo artigo de Herman Flegenheimer Jr. a respeito dessa história e vou reproduzi-lo aqui:


Pegadas misteriosas (Fonte: dailymail)


O Diabo que Caminha

Na manhã do dia 16 de fevereiro de 1855, os moradores de Londres leram no jornal The Times of London a seguinte matéria:
"Uma grande comoção foi causada nas cidades de Topsham, Lympstone, Exmouth, Teignmouth e Dawlish, ao sul de Devon, por causa da descoberta de um vasto número de pegadas estranhas e misteriosas. Os supersticiosos chegam ao ponto de crer que são as pegadas de Satã em pessoa; e a grande comoção causada nas pessoas de todas as classes pode ser julgada pelo fato do assunto ter chegado aos púlpitos locais.
Parece que na noite de quinta-feira houve uma grande nevasca na região de Exeter e no sul de Devon. Na manhã seguinte os habitantes dessas cidades foram surpreendidos pela descoberta de rastros de um animal estranho e misterioso, imbuído da capacidade de onipresença, já que as pegadas foram encontradas em muitos lugares inacessíveis – no telhado de casas, no alto de muros muito estreitos, em jardins e praças cercados por paredes e muros altos ou cercas fechadas assim como em campo aberto. Era raro um jardim em Lympstone onde as pegadas não estivessem presentes.
A julgar pelas trilhas, elas teriam sido causadas mais provavelmente por um animal bípede e não quadrúpede e o espaçamento entre os passos era de aproximadamente 20 centímetros. As impressões das pegadas se assemelhavam muito às das ferraduras de um jumento e mediam de 4 a 5 centímetros de uma ponta a outra. Aqui e ali elas tomavam a aparência de cascos fendidos, mas na sua maioria a forma de ferradura era constante e, pela neve acumulada no centro, apenas mostrando os contornos exteriores, as pegadas eram côncavas.
A criatura parece ter se aproximado das portas de inúmeras casas e então ter se afastado, mas ninguém foi capaz de descobrir os pontos de partida ou chegada do visitante misterioso. No último domingo o reverendo Mr. Musgrave citou o ocorrido em um de seus sermões e sugeriu a possibilidade das pegadas terem sido causadas por um canguru; mas isso dificilmente seria o caso, já que foram encontradas de ambos os lados do estuário de Exeter.
Até o momento o acontecido permanece um mistério e muitas pessoas supersticiosas que habitam as cidades já citadas estão realmente com medo de sair de suas casas depois que escurece."


Comparação de uma pegada comum e a pegada encontrada em Devon (Fonte: mortesubita)

Essa matéria comenta os fatos ocorridos na madrugada do dia 7 para o dia 8 de fevereiro daquele ano. Entretanto, não mostrava todos os detalhes que foram enviados para os jornais, como o Illustrated London News, pelos habitantes da região.
Os fatos como foram experienciados seguem:
Levantando-se na manhã do dia 8 de fevereiro de 1855, os habitantes de uma vasta região do sul do condado de Devon, na Inglaterra, constataram que, sobre a neve que cobria o solo, entrecruzavam-se um número enorme de rastros estranhos, pequenos e assemelhando-se a cascos de um animal e de uma incrível multiplicidade. Havia, provavelmente, mais de 160 km de rastros.
Os desenhos a seguir são reproduzidos daqueles publicados no Illustrated London News, no dia 3 de março de 1855, página 214. As pegadas mediam cada uma cerca de 10 centímetros de comprimento, por 7 centímetros de largura e estavam regularmente separadas de 20 a 22 centímetros.

(Fonte: aipetcher)
Quem as tinha feito? Surgiram todo tipo de explicações: de cangurus a passarinhos (sem deixar de lado o eventual alienígena de passagem por nosso planeta).
Existem alguns pontos relativos ao problema de identificação de quem ou o que deixou essas pegadas, que não foram suficientemente ressaltados nos relatos já publicados. Merecem atenção:
1-     Se as pegadas forem atribuídas a um animal terrestre qualquer (e aqui incluímos os pássaros), o elemento mais difícil de explicar é a sua colocação fantástica: "O misterioso visitante passou de modo geral apenas uma vez em cada local e o fez em quase todas as casas de numerosas partes das diferentes cidades, assim como nos ranchos isolados. Essa pista regular, passando em certos casos por sobre os tetos das casas ou por sobre os palheiros, ou por sobre muros muito altos (um com cerca de 4 metros e meio de altura), sem deslocar a neve nem de um lado nem do outro e sem modificar as distâncias entre as pegadas, como se o obstáculo não fosse absolutamente incômodo. Os jardins cercados de sebes altas ou de muros e com portas fechadas foram visitados, assim como aqueles que não tinha obstáculos nem eram fechados."

Ilustração da época sobre as pegadas do diabo (Fonte: songfacts)
1-     Um cientista afirmou ter seguido uma mesma pista através de um campo até um palheiro. A superfície deste palheiro estava totalmente virgem de qualquer marca mas, do lado oposto, numa direção correspondente exatamente à pista traçada até aquele ponto, as pegadas recomeçavam.
2-     O mesmo fato foi observado de um lado e de outro de um muro. Dois outros habitantes da mesma coluna seguiram uma linha de pegadas durante três horas e meia, passando sob um bosque de groselheiras e de árvores frutíferas em renques; perdendo em seguida o rastro e reencontrando-o sobre o teto de casas nas quais sua busca havia começado.
3-     O artigo publicado no Illustrated London News, 24 de fevereiro de 1855, página 187, indica igualmente que as pegadas passavam por uma "abertura circular de 30 cm de diâmetro" e em um "dreno de 15cm". As pegadas pareciam atravessar um estuário de quase 3,5 Km de largura (não existe documentação hoje sobre o rio para confirmar se sua superfície se encontrava congelada ou não).
4-     De nada serve atribuir a mais de um animal estes rastros, porque isto não explica como, qualquer que seja o animal e, qualquer que seja seu número, possa "passar pelos muros" ou subir aos tetos como se eles não oferecessem nenhum obstáculo; e, também, ter capacidade de passar por pequenas valas de 30 cm de largura. É igualmente digno de nota que os rastros não pareciam voltar para trás e nem circular aleatoriamente.
5-     Muitas pessoas que se interessaram pelo caso propuseram como solução para o mistério um fenômeno natural da atmosfera sobre as marcas – que seriam rastros não tão fantásticos que, devido ao clima, teriam mudado e ficado com aquela aparência, mas como seria possível que a atmosfera afetasse uma marca e não a outra? Na manhã em que elas foram observadas, a neve apresentava pegadas frescas de cães e gatos, coelhos, pássaros e homens, nitidamente definidas. Por que então um rastro ainda mais nitidamente definido – tão nitidamente que a fenda do meio de cada casco podia ser discernida – por que então este traço em particular seria, somente ele, afetado pela atmosfera e todas as outras marcas deixadas como eram? Ademais, a circunstância mais singular levantada a esse respeito era a de, onde quer que aparecesse essa marca, a neve estava completamente revolta, como se tivesse sido talhada com diamante ou marcada com ferro quente, como se a neve tivesse sido tirada, e não pisada.


(Fonte: ghostswritterssociety)

1-     Em um caso, esta pista entrou num celeiro coberto onde a atmosfera não podia afetá-la e atravessou saindo por uma brecha na parede oposta. O autor desses registros (no mesmo artigo no Illustrated London News) passou cinco meses de inverno nas florestas do interior do Canadá e tem uma longa experiência em rastros de animais e de pássaros sobre a neve. Ele assegurou que "jamais viu uma pista tão nitidamente definida e nem uma pista que parecesse tão pouco afetada pela atmosfera".
2-     Estas circunstâncias são desconcertantes; os rastros são feitos por pressão e mostram sinais nítidos de compressão na neve que envolve cada pegada. Mas se elas são feitas por revolvimento da neve, como explicar esse fato?
3-     Um outro pormenor, notado por Charles Fort, mas que não foi encontrado em nenhuma outro lugar, é que segundo uma descrição (se bem que feita 35 anos após o acontecimento), as pegadas do condado de Devon alternavam-se por "intervalos enormes, mas regulares, que pareciam ser marcas da ponta de um bastão" (O Livro dos Danados, capítulo 28). O que isso pode significar permanece extremamente problemático.
4-     Charles Fort, Rupert T. Gould, Bernard Heuvelmans e Eric Franck Russel mencionaram descrições curiosamente similares provenientes de regiões muito afastadas geograficamente. Segue a lista dos incidentes relatados:
5-     Escócia, 1839-1840 (London Times, 14 de março de 1840).
6-     - Ilha Kerguelen, Oceano Índico 1840 (Viagem de descoberta e pesquisa dos mares do Sul e Oceano Antártico, Cap. Sir James Clark Ross).
7-     - Polônia, perto de 1855 (Illustrated London News, 17 de março 1855).
8-     - Bélgica, 1945.
9-     - Brasil, data anterior a 1954.
(Fonte: 0001coisas)
10-     Os autores se referem a casos que podem ser ou não pertinentes. Um deles diz: "Após o sismo de 15 de julho de 1757, nas praias de Penzance, na Cornualha, numa zona de uma centena de metros quadrados, foram encontrados vestígios semelhantes a de cascos, salvo que estes não eram em crescente" (notar a proximidade do condado de Devon. Os vestígios do Brasil não eram em forma de crescente – esses rastros foram atribuídos à criatura conhecida como pé de garrafa). Uma menção, ainda mais obscura, diz respeito a um extrato dos anais chineses que se relaciona com o caso do condado de Devon: "Da corte de um palácio […] habitantes do palácio, levantando-se uma manhã, encontraram o pátio marcado com rastros, parecendo pegadas de um boi […] supuseram que o demônio os tivesse feito". Convém notar que alguns desses depoimentos não falam de neve, mas de rastros encontrados na areia ou na lama.

...

Na segunda parte do artigo darei prosseguimento ao artigo de Herman sobre essa intrigante história sobrenatural.


            Os passos do Diabo – Parte II - O Diabo Passeia Novamente


            Os passos do Diabo – Parte III – Origens da Lenda


            Os Passos do Diabo – Parte IV - Encontros


quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Mudando a percepção da realidade – Parte II

No artigo passado falei um pouco sobre a história do excelente artista plástico Ben Heine. Nessa segunda parte vou reproduzir uma entrevista de Heine feita para Simon Crisp (Newslite.tv) sobre o projeto Pencil Vs Câmera e mostrar mais alguns esboços desse interessante trabalho.


(Fonte: flickbr)

Sobre o Projeto:

B.H.: Eu poderia tê-lo chamado de "Desenho Vs Fotografia"ou "Vs Realidade da Imaginação " ...
Obrigado a todos pela grande feedback que vocês me enviaram. Esta série é nova e crescente a cada semana, por favor, voltem novamente para ver mais. Todos os elementos gráficos mostrados neste jogo (e na minha galeria no Flickr) vem do meu próprio estoque / produção. Eu fiz os esboços, tirei as fotos e as editei.

Primeiro trabalho de Heine para o projeto Pencil Vs Camera (Fonte: flickbr)
A Entrevista:

S.C.:Como que surgiu a idéia de Pencil Vs Camera?

B.H.: Eu tirava fotos e desenhava desde os 10 anos. A série Pencil Vs Camera não é senão o resultado de vários anos de exploração gráfica e uma consequência lógica da minha evolução artística. Mas a idéia real veio quando eu estava assistindo televisão e escrevendo uma carta, ao mesmo tempo, há algumas semanas. Ao ler minha carta antes de colocá-la no envelope, eu vi por trás do papel transparecer a imagem da televisão. Eu, então, percebi que seria ótimo fazer algo semelhante em uma única imagem que mostra duas ações diferentes.
Fui para fora e fiz o primeiro trabalho do Pencil Vs Camera, que é muito simples e mostra duas cadeiras com uma mesinha. Cerca de ¼ da cena é representada no papel, os outros ¾ acontece na foto. Portanto, esta é mais ou menos a forma como o projeto começou. Num outro trabalho tentei introduzir elementos estranhos no papel (como os dinossauros, OVNI's, duplo par de olhos ...) para contrastar com o realismo da foto.

(Fonte: flickbr)
S.C.: Como você escolhe as fotos que você usa?

B.H.: As fotos e desenhos, sempre vem do meu próprio estoque / produção. De alguma maneira eu considero a superfície da imagem como uma batalha entre o desenho e a fotografia e as ferramentas desta luta são os meus lápis e a minha câmera. Então, eu costumo escolher as fotos com um assunto marcante e uma ação específica. Também pode ser bom usar um cenário de fundo com um efeito muito simples e de baixa semântica e fazer tudo acontecer dentro do pequeno pedaço de papel.
A grande questão é que a fotografia e o desenho são duas formas diferentes de expressão, mas eles vão bem juntos e certamente têm o mesmo propósito: trocar uma idéia, uma emoção, um conceito ou uma mensagem.

(Fonte: flickbr)
S.C.: Como você escolhe o que adicionou nas imagens?

B.H.: Não há regras. Não deve haver. Imaginação e criatividade são a mola propulsora. É por isso que esta série é tão divertida de fazer. Você pode optar por tirar algo de uma forma realista ou um pouco louca. Eu, pessoalmente, prefiro mostrar coisas irreais sobre o papel porque a foto é um mero reflexo do mundo em que vivemos.
Notei que alguns trabalhos representam uma forte perspectiva sobre o papel e uma ilusão de bem e gera um impacto visual agradável quando ele coincide com as linhas principais do cenário de fundo. É muito emocionante para o espectador ignorar o que está realmente por trás do papel. É claro para mim que representa realmente a batalha entre o desenho e a fotografia, o que é toda a mensagem e o propósito da série.


(Fonte: flickbr)

S.C.: Quais são seus favoritos até agora?

B.H.: Eu realmente não tenho favoritos. Eu deixei o telespectador decidir o que ele prefere e eu só estou pensando nos meus próximos projetos.

S.C.: Que reação você teve com seus trabalhos até agora?

B.H.: Esta série teve um resultado muito positivo. Eu realmente não esperava por isso. Estou muito feliz dos bons feedbacks que eu recebi de todo o mundo. Eu acho e espero que esta técnica possa se tornar uma nova forma de expressão para todos. Então, boa sorte!

(Fonte: flickbr)


            Mudando a Percepção da Realidade - Parte I

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