quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

O legado de Hamurabi



Hamurabi diante do deus Shamash (Fonte: seguindopassoshistoria)

Hamurabi foi o sexto rei da dinastia babilônica e tornou-se o primeiro rei do império babilônico após a conquista da Suméria e da Acádia, no período de 1792 a 1750 a.C.. Ficou famoso por ter concebido o mais antigo código de leis escritas, conhecido como Código de Hamurabi, consolidando assim uma legislação pré-existente na época. O código foi transcrito numa estela (monumento talhado em rocha de diorito) em três alfabetos diferentes e tinha como objetivo regular a vida cotidiana dos cidadãos da região. A sociedade era dividida em três categorias:

Awilum: homens livres, independente de ser pobre ou rico;
Muskênum: funcionários públicos;
Escravos: prisioneiros de guerra.


O código de Hamurabi (Fonte: jusfacto)

Nesse contexto os principais pontos abordados por essa legislação era a lei de talião (olho por olho, dente por dente), falso testemunho, roubo / receptação, estupro, família e escravos. A punição ou a pena diferia de acordo com a classe social do indivíduo e antes que alguém pudesse alegar ignorância da lei ela estava lá exposta livremente a todos, apesar da maioria das pessoas não saberem sequer ler, com exceção dos escribas.
           As punições eram demasiadamente severas e dentro do princípio de talião funcionavam mais ou menos como um castigo-espelho, ou seja, toma lá, dá cá. Observemos alguns artigos:

21. Se alguém arrombar uma casa, ele deverá ser condenado à morte na frente do local do arrombamento e ser enterrado.

25. Se acontecer um incêndio numa casa, e alguns daqueles que vierem acudir para apagar o fogo esticarem o olho para a propriedade do dono da casa e tomarem a propriedade deste, esta(s) pessoa(s) deve(m) ser atirada(s) ao mesmo fogo que queima a casa.

108. Se uma dona de taverna não aceitar grãos de acordo com o peso bruto em pagamento por bebida, mas aceitar dinheiro, e o preço da bebida for menor do que o dos grãos, ela deverá ser condenada e atirada na água.

129. Se a esposa de alguém for surpreendida em flagrante com outro homem, ambos devem ser amarrados e jogados dentro d'água, mas o marido pode perdoar a sua esposa, assim como o rei perdoa a seus escravos.

132. Se o "dedo for apontado" para a esposa de um homem por causa de outro homem, e ela não for pega dormindo com o outro homem, ela deve pular no rio por seu marido.

195. Se um filho bater em seu pai, ele terá suas mãos cortadas.

196. Se um homem arrancar o olho de outro homem, o olho do primeiro deverá ser arrancado

200. Se um homem quebrar o dente de um seu igual, o dente deste homem também deverá ser quebrado

229 Se um construtor construir uma casa para outrem, e não a fizer bem feita, e se a casa cair e matar seu dono, então o construtor deverá ser condenado à morte.

230. Se morrer o filho do dono da casa, o filho do construtor deverá ser condenado à morte.


(Fonte: karinamerlo)

Como podemos notar, muitos desses artigos legislativos nos soam um tanto quanto ultrapassados, exagerados e intolerantes. Hamurabi mantinha uma postura bastante rígida para controlar a sociedade e se pararmos para pensar, essa fórmula de justiça que nos parece cruel e bárbara e se assemelha mais a uma vingança do que a uma necessidade de se punir com justiça, pode ser entendida com a máxima de que ela também é baseada numa relação de equilíbrio entre o crime e a punição. Mas na prática, no decorrer da história, o princípio de talião perdeu parte do seu foco principal que era o de dar ao crime a sua punição na intensidade correta, para assim, ser considerada uma pena justa. O que vimos na verdade foi a execução de penas grotescas declaradas sempre pela necessidade de punir em nome de um bem aparentemente maior. Além da questão do equilíbrio, expresso no próprio significado do termo talião (do latim, talio, significando ‘tal’ ou ‘igual’), ter sido deturpado, o propósito da justiça e da injustiça foi substituído pelo propósito do bem e do mal, dando lugar ao julgamento subjetivo, ao invés do julgamento imparcial.


Iraniana comemorou a condenação de seu algoz pela lei de talião (Fonte: ceboanova)

A lei de talião (escrita mesmo em minúscula por não se tratar de nome próprio) permanece presente ainda hoje em quase todas as sociedades, mesmo que de forma indireta: se um estuprador for preso, provavelmente será estuprado na prisão; se um bandido mata alguém sem a autorização do líder de sua facção, muito provavelmente será morto também. Além disso, a máxima ‘olho por olho, dente por dente’ também aparece claramente em alguns códigos penais como o do Irã. Um exemplo disso foi uma notícia divulgada no G1 há um dia atrás, onde um homem iraniano foi condenado a perder um olho e uma orelha por ter jogado ácido sulfúrico no rosto de outro sujeito, queimando sua orelha. O réu identificado apenas como Hamid, justificou no tribunal que teria feito tal atentado por ter confundido a vítima com um ex-colega de classe que o incomodava na época do colégio. A matéria ainda relatava que acontecimentos como este estavam acontecendo com bastante freqüência nos últimos anos. Em novembro deste ano, um sujeito conhecido como Mojtaba foi condenado a perder os olhos por ter cegado o marido de sua amante com ácido na cidade sagrada de Qom e, em fevereiro do ano passado Majid Movahedi também foi condenado à cegueira por ter jogado ácido no rosto de uma colega de faculdade em 1994, depois que ela rejeitou-se a casar com ele. Quando ela ficou sabendo do resultado da condenação comemorou: “Ele será anestesiado e não sofrerá dores. Não vou desfiguar o rosto, porque bastam algumas gotas, e nem terá lesões internas, como eu tive. Ele deve pagar. Olho por olho, dente por dente, essa é a lei de talião”.



(Fonte: direito-vivo)

O código de Hamurabi, apesar de parecer um tanto quanto inumano em sua essência, serviu de inspiração para muitos códigos legislativos que vieram futuramente e influenciou de alguma forma a própria teoria de direito. A gente pode concluir que a problemática de sua aplicação não está necessariamente na sua essência, e sim na forma como determinaram que ela seria aplicada. O desvirtuamento do objetivo final faz parecer que a lei de talião seja coisa de trogloditas, contudo jamais isso poderia ser considerado uma verdade absoluta, nem do ponto de vista mais humano.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

A Visão Animal dos Espíritos

Certa vez fiquei acordado até o princípio da madrugada lendo alguns artigos na Internet. Tinha um papagaio que dormia num poleiro que ficava no alto de uma das paredes da copa. Quando fui me deitar, depois de alguns minutos, ouço o bater de asas do bicho e logo imaginei que ele tivesse pulado lá de cima, sem entender a razão. Ao chegar na copa encontro o meu papagaio bastante assustado, como se tivesse visto algum estranho ou alguma outra coisa ameaçadora, mas na verdade não havia nada, pelo menos nada visível para mim. Coloquei-o de volta no poleiro e ele ficou lá com o pescoço esticado olhando amedrontado fixamente em uma direção, sendo que, nessa direção não havia nada, só alguma mobília da casa. O que é mais intrigante é que este tipo de situação é bastante comum entre animais domésticos. Quem já não presenciou um cachorro que fica latindo em direção a uma parede, como se estivesse querendo espantar algo, ou um gato que observa fixamente o nada? Geralmente que tem bichos de estimação já viu algo parecido, mas afinal de contas, o que esses animais vêem que não vemos?


(Fonte: new.taringa)

Para a parapsicologia os animais podem possuir habilidades paranormais, de acordo com testes parapsicológicos já realizados em laboratório. Logo, se você já teve visões, sensações fora do corpo ou coisas do tipo, seus animais de estimação também podem ter. Segundo o neurologista Kevin Nelson, especialista em análises dos processos de sensação espiritual nos animais, é razoável imaginar que os animais também sejam capazes de ter experiências espirituais, pois tais experiências têm origem nas áreas mais primitivas do cérebro humano, logo animais com estruturas cerebrais semelhantes poderiam compartilhar das mesmas experiências. Ele ainda afirma que animais como primatas, cavalos, gatos e cachorros possuem tal semelhança com nossa estrutura cerebral primitiva.


Aos gatos eram atribuídas diversas habilidades espirituais (Fonte: professorajesmary)

Vez ou outra vemos num noticiário uma manchete sobre um bicho de estimação que prevê algum desastre iminente como um terremoto, salvando posteriormente o dono de tal evento. Essa ‘intuição’ é muito comum, principalmente em gatos. Estes, particularmente, possuem bastantes associações ao espiritismo como, por exemplo, a habilidade de vislumbrar outros mundos. No antigo Egito, além dessa característica, acreditava-se que os gatos eram capazes de enxergar espíritos e deuses, entre outras entidades, e era capaz de viajar pelo mundo dos mortos. Em virtude disso, era comum um gato ser sacrificado após o falecimento de um sacerdote, um nobre ou um faraó, pois para o espírito do falecido era mais simples encontrar o caminho do além seguindo o espírito do gato que servia como guia espiritual. Já para as bruxas, os gatos serviam para detectar a presença de espíritos num determinado local. Se o gato passar se comportar de maneira estranha, assustado sem razão, observando algo que você não pode ver, significa que ali há uma presença espiritual.


As bruxas também acreditam que os gatos vêem espíritos (Fonte: bruxaria)

Do ponto de vista bíblico existem pouquíssimos relatos a respeito do assunto. Há dois momentos claros onde animais interagem com espíritos: a passagem sobre a jumenta de Balaão, no livro de Números, e a passagem da manada de porcos endemoniados do livro de Mateus. Vamos verificar:


A jumenta de Balaão (Fonte: ebdweb)


Números 22

21 Então levantou-se Balaão pela manhã, albardou a sua jumenta, e partiu com os príncipes de Moabe.
22 A ira de Deus se acendeu, porque ele ia, e o anjo do Senhor pôs-se-lhe no caminho por adversário. Ora, ele ia montado na sua jumenta, tendo consigo os seus dois servos.
23 A jumenta viu o anjo do Senhor parado no caminho, com a sua espada desembainhada na mão e, desviando-se do caminho, meteu-se pelo campo; pelo que Balaão espancou a jumenta para fazê-la tornar ao caminho.
24 Mas o anjo do Senhor pôs-se numa vereda entre as vinhas, havendo uma sebe de um e de outro lado.
25 Vendo, pois, a jumenta o anjo do Senhor, coseu-se com a sebe, e apertou contra a sebe o pé de Balaão; pelo que ele tornou a espancá-la.
26 Então o anjo do Senhor passou mais adiante, e pôs-se num lugar estreito, onde não havia caminho para se desviar nem para a direita nem para a esquerda.
27 E, vendo a jumenta o anjo do Senhor, deitou-se debaixo de Balaão; e a ira de Balaão se acendeu, e ele espancou a jumenta com o bordão.
28 Nisso abriu o Senhor a boca da jumenta, a qual perguntou a Balaão: Que te fiz eu, para que me espancasses estas três vezes?
29 Respondeu Balaão à jumenta: Porque zombaste de mim; oxalá tivesse eu uma espada na mão, pois agora te mataria.
30 Tornou a jumenta a Balaão: Porventura não sou a tua jumenta, em que cavalgaste toda a tua vida até hoje? Porventura tem sido o meu costume fazer assim para contigo? E ele respondeu: Não.
31 Então o Senhor abriu os olhos a Balaão, e ele viu o anjo do Senhor parado no caminho, e a sua espada desembainhada na mão; pelo que inclinou a cabeça, e prostrou-se com o rosto em terra.
32 Disse-lhe o anjo do senhor: Por que já três vezes espancaste a tua jumenta? Eis que eu te saí como adversário, porquanto o teu caminho é perverso diante de mim;
33 a jumenta, porém, me viu, e já três vezes se desviou de diante de mim; se ela não se tivesse desviado de mim, na verdade que eu te haveria matado, deixando a ela com vida.
34 Respondeu Balaão ao anjo do Senhor: pequei, porque não sabia que estavas parado no caminho para te opores a mim; e agora, se parece mal aos teus olhos, voltarei.
35 Tornou o anjo do Senhor a Balaão: Vai com os mem, ou uma somente a palavra que eu te disser é que falarás. Assim Balaão seguiu com os príncipes de Balaque


Nessa passagem podemos perceber que a jumenta de Balaão, desde o princípio, tinha notado a presença do anjo de Deus no caminho, já Balaão não conseguiu enxergá-lo em nenhuma das 3 aparições e foi necessário que Deus fizesse a jumenta falar para que Balaão entendesse que aquele não era o caminho a ser seguido. Mesmo assim ele ignorou o apelo da jumenta e Deus finalmente fez com que o anjo se apresentasse diante dos olhos de Balaão que já havia espancado o animal por diversas vezes por não compreender porque ele sempre desviava o caminho.


Porcos endemoniados se suicidando (Fonte: ecclesia)

Mateus 28

28 Tendo ele chegado à outra margem, à terra dos gadarenos, vieram-lhe ao encontro dois endemoninhados, saindo dentre os sepulcros, e a tal ponto furiosos, que ninguém podia passar por aquele caminho.

29 E eis que gritaram: Que temos nós contigo, ó Filho de Deus! Vieste aqui atormentar-nos antes de tempo?

30 Ora, andava pastando, não longe deles, uma grande manada de porcos.

31 Então, os demônios lhe rogavam: Se nos expeles, manda-nos para a manada de porcos.

32 Pois ide, ordenou-lhes Jesus. E eles, saindo, passaram para os porcos; e eis que toda a manada se precipitou, despenhadeiro abaixo, para dentro do mar, e nas águas pereceram.

33 Fugiram os porqueiros e, chegando à cidade, contaram todas estas coisas e o que acontecera aos endemoninhados.

34 Então, a cidade toda saiu para encontrar-se com Jesus; e, vendo-o, lhe rogaram que se retirasse da terra deles.

Aqui temos o relato da passagem de Jesus Cristo pela cidade de Gadara e o seu encontro com dois homens endemoniados. Ao expulsar os demônios, estes se apossaram de uma manada de porcos que havia nas proximidades e levam todos eles ao suicídio. Mas é bom notar que os demônios pediram antes autorização para poderem se apossar do corpo dos porcos, pois não poderiam fazer isso por vontade própria.

Pelas duas passagens podemos concluir que, biblicamente falando, é possível a interação entre animais e espíritos e que os animais são capazes de enxergar coisas que não enxergamos, apesar da bíblia não colocar o assunto nesses termos. No segundo caso ainda poderíamos dizer que um espírito só poderia interagir com um animal, mediante autorização divina (da mesma forma que um espírito não seria capaz de ser visto por uma pessoa comum, mas apenas por aquelas que carregam consigo alguma habilidade mediúnica). Mas se levássemos esse fator a sério poderíamos então perguntar, porque Deus autorizaria a manifestação de um espírito para um animal? No caso da jumenta de Balaão há uma justificativa clara que é mudar a rota pela qual ele seguia com sua jumenta em tal ocasião. E no contexto de quem tem seu bicho de estimação e ele fica lá se assustado com algo que não vemos, qual seria o propósito então? Não podemos negar a existência de tais entidades, até porque estaríamos também negando relatos do mesmo nas mais diversas culturas, desde os povos mais antigos até as gerações mais avançadas. Entretanto não podemos tomar nada como verdade absoluta, o que é para uns, pode não ser para outros, ou pode simplesmente significar algo diferente, mas do meu ponto de vista os espíritos estão sim, por aí de alguma forma tentando manter comunicação seja com pessoas, seja com animais.


(Fonte: cachorrosespeciais)


segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Tuskoy - A Cidade do Câncer

No mês passado a BBC de Londres divulgou uma matéria sobre o drama ocorrido numa das mais belas regiões da Turquia, a Capadócia. Nela encontramos a cidade de Tuskoy, que até pouco tempo atrás estava sendo evacuada em razão de um grave problema trazido pelas erupções dos vulcões Argeu, Hasan, Acigöl, Melendiz e Göllü há milhões de anos: um surto de câncer que vem acometendo os moradores de Tuskoy!


Tuskoy (Fonte: blogs.exitos939)

A região histórica da Capadócia, localizada na Anatólia central da Turquia, é conhecida por suas paisagens exóticas e exuberantes, com formações geológicas antigas de rochas porosas talhadas pelo tempo, e por suas ruínas históricas, responsáveis pela atração de mais de 2 milhões de turistas por ano. As rochas encontradas no local são resultados de erosões e atividades vulcânicas de milhões de anos e o patrimônio histórico e cultural do lugar é proveniente das cidades subterrâneas e das inúmeras habitações e igrejas escavadas na rocha desde um milênio atrás. As características geológicas de Capadócia deram origem às paisagens que comumente são descritas como lunares, devido à abundância de cavernas naturais e artificiais, onde algumas ainda são habitadas até hoje. As rochas encontradas, principalmente o tufo e o calcário, formam paredes macias o suficiente para que humanos construam suas habitações simplesmente escavando as rochas, sendo desnecessária a construção de edifícios para moradia. Tirando essa excêntrica característica, podemos dizer que os cidadãos de Tuskoy têm um cotidiano como a de qualquer outra cidade antiga: pode-se observar tratores circulando pelas ruas, mulheres em trajes característicos passeando pelas praças, homens gastando seu tempo de reposição em lojas de chá, ou jogando baralho e gamão.


Cidade esculpida na rocha (Fonte: obviousmag)

Rocha macia e porosa fácil de manipular (Fonte: ellystur)

Mas enquanto seus habitantes viviam sua rotina tranqüilamente, eles começaram a sofrer anormalmente uma alta taxa de doenças respiratórias, o que se tornou responsável por metade das mortes em Tuskoy. Até pouco tempo atrás ninguém sabia a causa desse surto de doenças respiratórias. Os médicos geralmente diagnosticavam a maioria dos pacientes com tuberculose que, antigamente, era algo muito comum de se ver. Entretanto, as pessoas que receberam o tratamento contra essa doença não apresentaram nenhum quadro de melhora e a maioria faleceu com o agravamento do estado de saúde.


Dr. Izzettin Baris (Fonte: hurriyetdailynews)

A verdadeira causa foi descoberta em meados da década de 1970 pelo Dr. Izzettin  Baris, que começou a estudar os pacientes de Tuskoy e duas outras aldeias afetadas pelo mesmo mal, a Karaiun e a Sarahidir. Baris descobriu que os doentes de Tuskoy, na verdade, sofriam de mesotelioma, uma forma virulenta de câncer, causada pela exposição ao amianto.


Amianto (Fonte: portalmedquimica)

O mesotelioma é um tipo de câncer que ocorre nas camadas mesoteliais da pleura, pericárdio, peritônio e, geralmente, atinge mais aos homens do que às mulheres. Nesta doença as células malignas se desenvolvem no mesótelio, uma camada protetora que reveste a maioria dos órgãos internos do corpo, sendo que, os mesotélios mais acometidos pela doença são os da pleura (revestimento externo do pulmão e da parede torácica interna), os do pericárdio (uma espécie de saco que envolve o coração) e os do peritônio (revestimento da cavidade abdominal).


Mesotelioma desenvolvido na pleura, o tipo mais comum (Fonte: willilive)

A maioria das pessoas que desenvolvem este tipo de câncer trabalha em empregos ou faz alguma atividade onde está exposta a partículas de amianto, também conhecido como asbesto. O amianto é um material fibroso natural com grande flexibilidade e resistências tênsil, química, térmica e elétrica muito elevadas e, além disso, pode ser tecido para roupas entre outras coisas. O amianto é constituído de feixes de fibras extremamente finas e longas, facilmente separáveis umas das outras e com tendências a liberarem um pó de partículas muito pequenas que flutuam no ar, aderem em tudo e são facilmente inaladas ou engolidas por um indivíduo que esteja em contato com esse material. Essas características são responsáveis pela sua abolição em mais de 30 países.
Entretanto, no caso dos moradores de Tuskoy, eles não estiveram exposto ao amianto então, teoricamente falando, eles não teriam como desenvolver mesotelioma. Outro fator que intrigava os estudiosos do caso era o fato de os índices da doença em Tuskoy serem centenas de vezes mais altos do que em qualquer outro lugar da Turquia. Foi aí que, recentemente, foi descoberto que o causador do mesotelioma nos moradores da região era um mineral raríssimo chamado erionita, muito presente nas rochas porosas da cidade. Esse mineral possui propriedades muito semelhantes ao amianto e pode estar presente em rochas ígneas, principalmente as vulcânicas e, comercialmente falando, é utilizada como catalisador em tratamento de efluentes, devido a sua capacidade de absorção de material particulado, entre eles os metais pesados.


Erionita (Fonte: todocoleccion)

Como as rochas presentes em Tuskoy são macias e porosas, é muito comum a existência de fragmentos de erionita no ar. As mulheres, por exemplo, costumam ir aos celeiros escovar a poeira das paredes, espalhando fragmentos por todas as partes. Mesmo aqueles que se mudaram para outras localidades também desenvolveram o mesotelioma, nem mesmo uma criança nascida em Tuskoy que tenha saído da cidade não conseguiria escapar do mal que acomete os demais habitantes. Os sintomas mais recorrentes nos doentes são dor torácica, tosse, febre, emagrecimento e perda da força muscular. A doença pode manifestar-se num período de mais ou menos trinta anos e, em cerca de 95% dos casos, os pacientes vão a óbito até 24 meses após o diagnóstico.
Infelizmente esse foi o tempo necessário para o governo de Tuskoy enxergar que a erionita era a responsável pelo surto de câncer nos moradores. Já no fim da década de 70 os moradores já apresentavam diversos tipos de problemas respiratórios, mas o mesotelioma era sempre confundido com a tuberculose. Agora que tudo foi esclarecido o governo concluiu que a melhor maneira de contornar a crise pela qual a cidade passava era transferir os moradores de lá para outra cidade, construída numa localidade livre da erionita. O governo liberou recursos para esse empreendimento depois de declarar como zona de desastre algumas partes do vilarejo. Agora um dos problemas enfrentados é o fato de alguns moradores se recusar a sair de Tuskoy, por não acreditar na vinculação do câncer com as rochas encontradas no local e, inclusive, acusaram o Dr. Baris de ter taxado o vilarejo de ‘cidade do câncer’, quebrando o turismo que era uma de suas principais fontes de renda. Pra piorar, a construção da nova cidade se dá a passos de tartaruga e a maioria dos moradores de Tuskoy ainda permanecem no lugar em contato com as paredes porosas, presentes de erionita. Baris afirma que todo o local deveria ser considerado zona de desastre e a melhor medida a ser tomada era evacuar a cidade, isolar a área e deixar a natureza tomar conta do local, pois a demolição da cidade poderia causar um grande risco devido à quantidade de pó que seria lançada no ar.
Enquanto a gravidade do caso não for considerada infelizmente é provável que o mesotelioma ainda esteja presente nas futuras gerações de habitantes que vivem ou viveram em Tuskoy.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

As Piranhas de James Cameron


Muitos filmes costumam ser taxados de ‘trash’ por conter um roteiro absurdo ou uma direção amadora onde nada parece ser levado a sério ou, às vezes, é tão levado a sério que acaba se tornando cômico de tão ridículo que ficou após ser finalizado. Um dos exemplos clássicos de filmes trash é o primeiro filme de James Cameron, Piranhas 2 – Assassinas Voadoras, onde uma instrutora de mergulho, ao investigar a morte de um mergulhador, descobre que o responsável, ou melhor, as responsáveis eram uma espécie desconhecida de piranhas que possuíam asas e saíam por aí voando e se atirando no pescoço das vítimas! Quem diria que o aclamado diretor de Avatar teria começado sua carreira com um clássico do terror trash? A gente pode imaginar de onde ele tirou uma idéia tão absurda dessas?


Piranhas Voadoras (Fonte: cinemacemanosluz)


Bom, na verdade existe uma espécie de peixe que não sai voando pela cidade atrás de comida humana, mas ele é capaz de se lançar da água a grandes alturas e permanecer planando durante algum tempo. Como não poderia deixar de ser, ele é conhecido como peixe voador.


Peixe Voador (Fonte: vidaselvagem.spaceblog)

Essa espécie também conhecida pelos nomes voador-cascudo, voador-de-pedra, voador-de-fundo, cajaléu, pirabebe, entre outros nomes chegam a medir até 45 centímetros, possui um corpo alongado, dorso azul-acinzentado, flanco prateados e ventre claro, nadadeiras pélvicas bem curtas, peitorais bem desenvolvidos e caudal furcada com lobo inferior maior. É um peixe de águas salgadas e é encontrado em diversas regiões no mundo, inclusive no Brasil, onde um parente seu conhecido como peixe-machadinha consegue fazer vôos bem mais curtos.
Ao contrário do que muitos pensam, essa espécie não voa, na verdade, ela plana. O peixe voador é capaz de ganhar impulso para saltar fora d’água a uma distância de até 6 metros de altura e cobrir uma longa distância durante o plano.

Garoto segurando um peixe voador (Fonte: bocaberta)

O ‘vôo’ desse peixe é um recurso muito utilizado para fugir de predadores maiores. Ao se sentir ameaçado ele cruza o mar em grande velocidade, com as barbatanas coladas ao corpo, depois muda a direção para cima e prepara o salto. Quando atinge a superfície o peixe voador dá um último impulso, batendo freneticamente a cauda na água, a levanta e decola para o céu, se inclinando 15º em relação à superfície líquida. Já no ar o peixe abre as barbatanas para poder se sustentar durante a planagem por cima da água. Enquanto plana, essa espécie pode chegar a voar por até 180 metros em um único vôo ou 400 metros em vôos múltiplos. Mas os passeios aéreos costumam ser rápidos e duram de 2 a 15 segundos.


Peixe voador (Fonte: pipocadebits)


Recentemente uma equipe do canal de televisão japonês NHK conseguiu um registro de um peixe voador planando no ar durante 45 segundos, no que já é considerado como o vôo mais longo de uma espécie dessa já gravado. É muito provável que nessa ocasião o peixe tenha chegado ao seu limite físico para executar tal façanha, levando em conta que o bicho não respira fora d’água.


James Cameron e suas piranhas (Fonte: filmofilia)

Sabendo disso, podemos dizer que James Cameron continuará com seu estigma de diretor de filme trash, pois, diferente dos peixes voadores da vida real, suas piranhas não planam, elas de fato voam, para lá e para cá, batendo suas barbatanas como se fossem asas e respirando na superfície por muito tempo. Além disso, elas não pegam impulso para saltar fora da água, elas simplesmente saem voando, para o terror dos personagens que fazem parte de seu universo fictício. Portanto, fiquemos tranqüilos, pois dificilmente toparemos com um bicho desse no nosso próximo passeio pelo litoral.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

A maldição de Ondina

Quem nunca tentou segurar ao máximo a respiração para ver até o quanto suportaria? Debaixo da água então eu mesmo já fiz várias vezes, mas chega num momento que nossa cabeça parece que vai explodir que nem um balão e acabamos soltando o ar dos pulmões para respirarmos novamente. Isso ocorre devido aos mecanismos de respiração involuntária que temos. Graças a eles, a gente permanece respirando mesmo quando não estamos conscientes dessa necessidade, como na hora do sono. Mas e se não fosse possível ter controle próprio da respiração e precisássemos estar alerta para fazer o processo de ventilação pulmonar durante 24 horas por dia, incessantemente? Esse é justamente o drama vivido por aqueles que são acometidos pela maldição de Ondina.


(Fonte: oestrogenio)

Também conhecida como síndrome de Ondine ou hipoventilação alveolar primária, as pessoas que sofrem desse problema simplesmente perdem o controle da respiração, ou seja, se o indivíduo não estiver atento pode simplesmente esquecer de respirar e morrer sufocado!
A palavra Ondina ou Ondine faz referência à ninfa das águas, segundo a mitologia germânica, e a síndrome que leva seu nome foi descoberta a cerca de 30 anos atrás. Hoje se acredita que há pelo menos uns 400 casos conhecidos, mas na realidade esse número pode ser bem maior já que a maioria dos bebês que nascem com essa síndrome tem morte súbita e, geralmente por falta de conhecimento dos médicos, são diagnosticados erroneamente ou simplesmente morrem sem ter uma causa determinada.


Ventilação mecânica durante o sono (Fonte: pamellafisio)

A doença é causada por mutações em genes, sendo que a mutação do gene PHOX2B é a principal responsável. Geralmente a síndrome é presente em recém-nascidos, mas indivíduos heterozigotos para PHOX2B podem desenvolver formas mais leves da doença e chegarem até a fase adulta. Entretanto, o maior perigo está mesmo na fase do sono, pois o fato do indivíduo não respirar adequadamente pode ser fator de risco para enfermidades cardiovasculares e cerebrais, sendo que, os problemas mais freqüentes durante e após o sono são o infarto agudo do miocárdio e o acidente vascular cerebral, sem falar nas lesões isquêmicas arteriais irreversíveis causadas pela diminuição do fluxo sanguíneo cerebral, por falta de ventilação na região. Geralmente os casos mais graves exigem um suporte de ventilação mecânica 24 horas por dia e, em alguns casos, uma cirurgia para a adição de um marca-passo frênico, mas é uma intervenção muito rara, pois é de elevado custo e existem pouquíssimos hospitais no mundo que fazem esse tipo de cirurgia.


(Fonte: humorsafado)

A maldição de Ondina é de difícil diagnóstico, devido a sua baixa incidência. Nos casos mais antigos da doença, os pacientes apresentavam diversos graus de atraso no desenvolvimento psicomotor, no crescimento estrutural, quadros convulsivos com seqüelas devido aos episódios de hipoxemia (deficiência anormal de concentração de oxigênio no sangue arterial) entre outros. Atualmente essas seqüelas vêm diminuindo graças à evolução da medicina, onde a doença pode ser diagnosticada precocemente, e ao suporte domiciliar intensivo de 24 horas, onde o paciente é acompanhado por especialistas. Além disso, o suporte de ventilação mecânica sofreu muitas melhorias e algumas opções adicionais para o tratamento do paciente, apesar do prognóstico se limitar a complicações do uso prolongado da ventilação mecânica. É importante destacar que em uma família mais pobre, um tratamento adequado da doença se torna inviável, principalmente pelo fator do alto custo e do esclarecimento da família do indivíduo, levando em conta que a equipe que faz o acompanhamento do paciente deve ser formada por cardiologista, neurologista, otorrino, endócrino, gastro, oftalmo, pneumologista, psicólogos, terapeutas, fonoaudiólogos, enfermeiros, assistente social e nutricionista. Além disso, a família necessitará de treinamento específico para cuidar do doente que precisará ou não de suporte de ventilação invasivo e de monitoração com oximetria (avaliação do grau de oxigenação sanguínea) e capnografia (avaliação do gradiente de dióxido de carbono durante a expiração), pois o paciente pode não apresentar sinais clínicos de esforço respiratório perante uma situação de comprometimento do sistema respiratório.


Paciente com síndrome de Ondina, acompanhada por especialista (Fonte: 1m1f)

A maioria dos casos de síndrome de Ondina é do tipo moderado, sendo que, pouquíssimos casos considerados graves foram registrados.
Ao refletir sobre isso é difícil imaginar como seria a rotina de uma pessoa que sofre desse mal, principalmente na hora do sono. Talvez eu me lembre disso da próxima vez que prender a respiração debaixo da água.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

FOP – A Prisão de ossos

Imagine o quão ruim deve ser você passar o resto de seus dias encarcerado numa prisão, sendo privado de tudo o que você gosta de fazer: praticar esportes, dançar, namorar, viajar... É uma sensação claustrofóbica, ainda mais levando em conta que você divide um pequeno espaço com várias outras pessoas. Agora imagine o quão horrível deveria ser se essa prisão surgisse dentro de você e te prendesse internamente lhe privando de todos os seus movimentos. Difícil de imaginar? Pois é, mas essa sensação é real e surgiu na forma de uma doença raríssima conhecida como FOP – Fibrodisplasia Ossificante Progressiva. Essa enfermidade faz com que danos causados em ligamentos, tendões e músculos se transformem em ossos. E o que acontece se uma articulação ossifica? Ela fica paralisada permanentemente evitando que o indivíduo se movimente. Mesmo se essa ossificação for removida é inútil, pois a área da remoção da ossificação voltar a ossificar num processo semelhante à cicatrização. Com a progressão da doença, o indivíduo passa a ter um segundo esqueleto por cima daquele que ele já possui. Em alguns casos a doença pode ser erroneamente diagnosticada como câncer, fazendo com que exames, como a biopsia, contribuam para a evolução da ossificação pelo corpo do paciente.


Esqueleto de Harry Eastlack (Fonte: wgate)

O caso mais impressionante de FOP pertence ao americano Harry Raymond Eastlack. Ele nasceu em 1933, na Filadélfia, Pensilvânia, EUA e, aos 5 anos de idade, teve uma fratura na perna esquerda, quando brincava com sua irmã, e essa fratura trouxe algumas complicações, pois o local onde houve a lesão se tornou rígido, como se tivesse criado por dentro da pele uma placa. Aos poucos essa rigidez foi se espalhando pela coxa e pelos quadris, era o processo de ossificação progredindo pelo corpo do menino. Isso se tornou mais intenso entre os 10 e 20 anos de idade, quando suas vértebras começaram a se fundir. Aos 30 anos Harry já tinha boa parte do corpo paralisado, ficando impossibilitado de exercer várias atividades comuns do cotidiano. Em 1973, ele morreu de pneumonia, seis dias antes do seu aniversário de 40 anos. Nessa época Harry já tinha todo o corpo completamente ossificado, inclusive sua mandíbula, que também não se movimentava mais, deixando-o capaz de mover apenas os lábios. Antes de morrer ele permitiu que seu esqueleto fosse preservado para pesquisas científicas e atualmente está exposto no Museu Mütter, na Faculdade de Medicina da Filadélfia. Seu esqueleto se tornou um dos poucos preservados e se tornou um importante material para o estudo da doença.


Harry Eastlack e seu esqueleto (Fonte: wgate2)

A FOP não é caracterizada por antecedentes da doença na família, logo sua causa é atribuída a uma mutação esporádica. É uma enfermidade incapacitante em crianças e adultos jovens e o sinal mais comum da FOP pode ser identificado ainda no nascimento quando há má formação dos dedões dos pés, apesar dos médicos não entenderem a relação de uma coisa com a outra. Outro sintoma que surge até os 20 anos de idade, mais ou menos, é um grande inchaço que se forma geralmente na região do pescoço e/ou costas e cresce rapidamente. A região fica avermelhada, dolorida e quente, e, à primeira vista, pode ser confundido com um tumor, entretanto, com o tempo, esse inchaço diminui, a dor some, e no lugar do inchaço se forma uma placa óssea. Esses inchaços são conhecidos como ‘surtos’ e ocorrem durante toda a vida do indivíduo. Dessa forma, qualquer tipo de lesão por mais ínfima que seja, pode causar um surto, portanto, os movimentos do corpo do indivíduo podem ser perigosamente afetados, pois basta uma manifestação de um surto para que a região onde ele ocorreu fique paralisada por uma formação óssea. Uma simples batida numa articulação pode paralisar para sempre todo o membro, pois mesmo que a placa óssea seja removida, outra irá surgir no local, ou seja, não tem cura para a FOP.

Esqueleto tomado pela FOP e sinal de má formação nos dedões como indícios da FOP (Fonte: howstuffworks)


Em algumas pessoas a doença progride lentamente, enquanto em outras ela é rápida, logo é imprevisível determinar como ela vai se desenvolver em um certo indivíduo. A ocorrência dos surtos varia de pessoa pra pessoa, ou seja, enquanto uns demoram meses ou até mesmo anos para desenvolver um surto, outros possuem surtos freqüentemente criando novas formações ósseas pelo corpo, sendo que, não necessariamente é preciso que haja uma lesão para que ossos se formem em determinado músculo. Até onde se sabe não existe um tratamento adequado para FOP, já que qualquer intervenção cirúrgica é suficiente para o surgimento de novos surtos, até mesmo uma vacina no músculo ocasiona surtos na região. A remoção da ossificação resulta numa nova ossificação, porém mais densa que a anterior. É uma verdadeira prisão se formando no interior do acometido pelo problema.


Coluna calcificada (Fonte: howstuffworks)

Como existem poucos relatos de pessoas com FOP, é difícil conduzir um estudo para a criação de um remédio eficaz para bloquear o receptor hiperativo que causa a formação dos ossos. Alguns corticosteróides e antiogênicos, segundo relatos, tem apresentado alguma utilidade no processo de inibição dos surtos. O ideal é que o portador de FOP tenha condições de ter um bom plano de saúde, acompanhamento de um profissional da saúde e de modificar sua casa para evitar acidentes e facilitar a locomoção daqueles que utilizam cadeiras de rodas, devido ao processo de paralisação do corpo.


Criança com indicativo de surto nas costas (Fonte: wgate)

Com a evolução da ciência os estudos da FOP estão evoluindo cada vez mais e a chave para o segredo do processo de formação básica dos ossos está perto de ser encontrada. Com essa chave será possível que muitas pessoas que sofrem desse mal sejam libertadas de sua prisão interior.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Goddess Bunny - a rainha da noite underground

Há uns anos atrás um vídeo surgido no youtube gerou muita polêmica. Algumas das versões mostravam sons e imagens distorcidas entrecortados por cenas de uma mulher deformada que dançava bizarramente e ficava te encarando enquanto a câmera fechava um close na sua sombria face. Muitos que assistiram ficaram com medo, outros acharam graça (eu me encaixo na primeira opção). A lenda que girava em torno do vídeo dizia que ele foi criado por um grupo de transexuais satanistas que pertenciam a uma associação secreta que tinha como objetivo ganhar almas para o diabo através de mensagens subliminares inseridas neste vídeo em questão. Ele se chama “Obedece a la Morsa”.

Obedece a La Morsa (Fonte:1977voltios)
O tal grupo a serviço do demônio é conhecido como “La Morsa” e dizem que sua localização foi identificada em Lisboa, Portugal; Bremerhaven, Alemanha; e Fortaleza, Brasil. Até onde essa história é verdade?
Como já foi esclarecido em muitos sites, o grupo La Morsa nunca existiu, o vídeo era só mais um dos milhares de vídeos virais sensacionalistas que borbulham pela Internet. E a dançarina deformada? Essa sim é real, com uma única correção: não é uma mulher e sim uma drag queen e as cenas dela dançando fazem parte de um filme independente lançado em 1998 nos Estados Unidos que é chamado “Goddess Bunny” que conta a história de sua vida.


Cena do documentário Goddess Bunny (Fonte: paris-la)

O título do documentário dirigido por Nick Bougas é justamente o nome artístico de Johnnie Baima, um homossexual que padeceu de deformações provenientes da poliomielite que teve e, mesmo enfrentando essa e outras dificuldades, como o abandono dos pais, ele superou seus traumas e se tornou conhecido no cenário underground de Los Angeles e Califórnia como cantora, bailarina, atriz e modelo.


Baima de cara limpa (Fonte: forum.dead-donkey)

Johnnie Baima teve uma vida muita conturbada. Quando criança, ao padecer da poliomielite, sofreu uma terapia negligente por parte dos médicos que lhe implantaram uma barra de aço na coluna vertebral que vai de uma ponta a outra e esta, tinha o objetivo de reforçar a coluna fragilizada, mas causou o efeito contrário ao afetar seriamente sua postura e impedir o seu crescimento natural. Até onde se sabe, a barra não foi retirada até hoje. Baima relata ainda no documentário de Bougas que sofreu abusos sexuais pelos lares adotivos que passou durante a infância e foi estuprado na adolescência por um bando de delinqüentes. Na fase adulta se tornou Drag Queen e mudou seu nome para Sandy Crisp, com o qual começou a ganhar popularidade no meio gay e transgênero de Hollywood. Em 1986 fez um trabalho como modelo do fotógrafo Joel-Peter Witkin onde realizou o nu artístico para a obra fotográfica Leda, que foi exposta em Los Angeles e depois foi exibida em outras exposições pelo mundo. Posteriormente viria a adotar a alcunha de Goddess Bunny e passou a se apresentar em lugares alternativos como cantora e dançarina. Além disso virou anfitriã de eventos glbt onde ela apresentava personalidades gays, lésbicas e transgêneros.


Goddess Bunny e fã (Fonte: myspace)

Depois de já ter estabelecido uma certa fama no meio underground, Baima chama a atenção do diretor Nick Bougas que resolve fazer o já comentado filme independente Goddess Bunny que conta os percalços pelos quais Baima passou para chegar até onde chegou e o estigma de ‘Johnnie Baima’, o ser real, sem estar dentro da personagem que o popularizou mundialmente, principalmente através do estranhíssimo hoax Obedece a La Morsa. Na época que gravou este documentário, Johnnie casou-se com um ex-presidiário chamado Rocky, libertado recentemente naquela ocasião. Foi morar com ele e sua sogra, uma cristã fervorosa. Não demorou muito para que os conflitos entre eles se tornassem freqüentes, devido a não aceitação da mãe de Rocky pela estranha relação mantida entre o filho e a drag. Dentro de pouco tempo resolveram se divorciar e Baima teve que ir embora. Passou então a buscar um lugar estável para viver, mas até hoje, devido a seu aspecto físico e a sua vocação artística não consegue permanecer por muito tempo em algum lugar.


Goddess Bunny durante apresentação em casa noturna (Fonte: commons.wikimedia)

Mesmo diante de todas essas dificuldades a Goddess Bunny batalha diariamente pra se manter em evidência no cenário artístico. Já chegou a fazer uma participação no videoclipe The Dope Show, do Marilyn Manson e continua se apresentando pelas noites americanas provando que deficiência física e traumas do passado não são motivos pra desistir de sonhar e lutar por sua felicidade.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Fazendo arte com moedas


Sabe aquelas moedas de 1 centavo que você detesta receber como troco? Não sabe o que fazer com elas? Que tal fazer isto:

(Fonte: coinstacking)

(Fonte: coinstacking)


(Fonte: coinstacking)


(Fonte: coinstacking)

Um detalhe: todas essas esculturas de moeda foram feitas sem o uso de nenhuma cola ou adesivo ou qualquer outro tipo de suporte às estruturas. É conhecida como coin stacking, acá, a arte de empilhar moedas. A graça desta modalidade está justamente no fato de desafiar as leis da física tentando construir monumentos de moedas sem a utilização de nenhum artifício. Na verdade o termo correto não seria ‘desafiar as leis da física’, mas sim se beneficiar dela.
O que mantém essas estruturas de pé é a relação existente entre a densidade, a resistência da moeda e o atrito entre um objeto e o outro. Vamos tomar como exemplo a primeira imagem: nesse caso, a moeda de cima tem que estar com o centro de massa apoiado na beirada da de baixo. Ainda poderia se considerar numa situação limite, que a moeda de cima tivesse o seu centro de massa apoiado em outra parte da moeda inferior. Mas dependendo de onde se localiza o centro de massa de toda a estrutura, o deslocamento de uma moeda em relação à outra não poderia ultrapassar os 50% senão a pilha de moedas desabaria. Ainda podemos concluir pelo tamanho da estrutura que quanto maior for o deslocamento da posição do objeto e maior for a área de contato entre eles, maior poderá ser o número de moedas utilizadas para elevar ainda mais o monumento.


(Fonte: coinstacking)

Apesar de extremamente complexo essas pilhas de moedas, ao se tentar fazer algo semelhante você verá que não é tão difícil quanto parece. Vou mostrar um passo a passo de como fazer uma estrutura de moedas empilhadas:

1º Passo

Quebre aquele seu potinho de moedas de um centavo, empilhe 10 tostões e use sua mão para deixá-los bem uniformes umas sobre as outras.


(Fonte: wikihow)

2º Passo

Crie uma tríade de moedas cuidadosamente em cima dos 10 tostões.


 
(Fonte: wikihow)

3º Passo

Coloque outra tríade em cima da tríade anterior. Continue adicionando tríades até conseguir a altura desejada.

(Fonte: wikihow)


4º Passo

Repita os passos acima para criar outra coluna com o mesmo tanto de tríades que você inseriu na primeira coluna. Após isso aproxime as duas colunas.



(Fonte: wikihow)

5º Passo

Conecte a ponte acrescentando um tostão por vez em cada extremidade levando a nova pilha em direção ao centro como na imagem a seguir:


(Fonte: wikihow)

6º Passo

Expanda novamente a ponte criando mais uma tríade em cima de cada pilha. Com isso você criará uma ponte com a largura de duas moedas, como na foto.


(Fonte: wikihow)

7º Passo

Enlargueça mais uma vez a ponte criando mais uma camada de tríades de centavos. Após isso você pode criar mais colunas para juntar às duas já criadas. Se pretende construir andares muita atenção para a distância entre as colunas. Quanto maior à distância entre elas maior deverá ser a camada de tríades necessárias para suportar um novo andar.


(Fonte: wikihow)

(Fonte: minhathoca)

A partir daí você pode se aventurar por estruturas mais complexas, as possibilidades são infinitas!

(Fonte: coinstacking)

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