Há uns anos atrás um vídeo surgido no youtube gerou muita polêmica. Algumas das versões mostravam sons e imagens distorcidas entrecortados por cenas de uma mulher deformada que dançava bizarramente e ficava te encarando enquanto a câmera fechava um close na sua sombria face. Muitos que assistiram ficaram com medo, outros acharam graça (eu me encaixo na primeira opção). A lenda que girava em torno do vídeo dizia que ele foi criado por um grupo de transexuais satanistas que pertenciam a uma associação secreta que tinha como objetivo ganhar almas para o diabo através de mensagens subliminares inseridas neste vídeo em questão. Ele se chama “Obedece a la Morsa”.
Obedece a La Morsa (Fonte:1977voltios) |
O tal grupo a serviço do demônio é conhecido como “La Morsa” e dizem que sua localização foi identificada em Lisboa, Portugal; Bremerhaven, Alemanha; e Fortaleza, Brasil. Até onde essa história é verdade?
Como já foi esclarecido em muitos sites, o grupo La Morsa nunca existiu, o vídeo era só mais um dos milhares de vídeos virais sensacionalistas que borbulham pela Internet. E a dançarina deformada? Essa sim é real, com uma única correção: não é uma mulher e sim uma drag queen e as cenas dela dançando fazem parte de um filme independente lançado em 1998 nos Estados Unidos que é chamado “Goddess Bunny” que conta a história de sua vida.
Cena do documentário Goddess Bunny (Fonte: paris-la) |
O título do documentário dirigido por Nick Bougas é justamente o nome artístico de Johnnie Baima, um homossexual que padeceu de deformações provenientes da poliomielite que teve e, mesmo enfrentando essa e outras dificuldades, como o abandono dos pais, ele superou seus traumas e se tornou conhecido no cenário underground de Los Angeles e Califórnia como cantora, bailarina, atriz e modelo.
Baima de cara limpa (Fonte: forum.dead-donkey) |
Johnnie Baima teve uma vida muita conturbada. Quando criança, ao padecer da poliomielite, sofreu uma terapia negligente por parte dos médicos que lhe implantaram uma barra de aço na coluna vertebral que vai de uma ponta a outra e esta, tinha o objetivo de reforçar a coluna fragilizada, mas causou o efeito contrário ao afetar seriamente sua postura e impedir o seu crescimento natural. Até onde se sabe, a barra não foi retirada até hoje. Baima relata ainda no documentário de Bougas que sofreu abusos sexuais pelos lares adotivos que passou durante a infância e foi estuprado na adolescência por um bando de delinqüentes. Na fase adulta se tornou Drag Queen e mudou seu nome para Sandy Crisp, com o qual começou a ganhar popularidade no meio gay e transgênero de Hollywood. Em 1986 fez um trabalho como modelo do fotógrafo Joel-Peter Witkin onde realizou o nu artístico para a obra fotográfica Leda, que foi exposta em Los Angeles e depois foi exibida em outras exposições pelo mundo. Posteriormente viria a adotar a alcunha de Goddess Bunny e passou a se apresentar em lugares alternativos como cantora e dançarina. Além disso virou anfitriã de eventos glbt onde ela apresentava personalidades gays, lésbicas e transgêneros.
Goddess Bunny e fã (Fonte: myspace) |
Depois de já ter estabelecido uma certa fama no meio underground, Baima chama a atenção do diretor Nick Bougas que resolve fazer o já comentado filme independente Goddess Bunny que conta os percalços pelos quais Baima passou para chegar até onde chegou e o estigma de ‘Johnnie Baima’, o ser real, sem estar dentro da personagem que o popularizou mundialmente, principalmente através do estranhíssimo hoax Obedece a La Morsa. Na época que gravou este documentário, Johnnie casou-se com um ex-presidiário chamado Rocky, libertado recentemente naquela ocasião. Foi morar com ele e sua sogra, uma cristã fervorosa. Não demorou muito para que os conflitos entre eles se tornassem freqüentes, devido a não aceitação da mãe de Rocky pela estranha relação mantida entre o filho e a drag. Dentro de pouco tempo resolveram se divorciar e Baima teve que ir embora. Passou então a buscar um lugar estável para viver, mas até hoje, devido a seu aspecto físico e a sua vocação artística não consegue permanecer por muito tempo em algum lugar.
Goddess Bunny durante apresentação em casa noturna (Fonte: commons.wikimedia) |
Mesmo diante de todas essas dificuldades a Goddess Bunny batalha diariamente pra se manter em evidência no cenário artístico. Já chegou a fazer uma participação no videoclipe The Dope Show, do Marilyn Manson e continua se apresentando pelas noites americanas provando que deficiência física e traumas do passado não são motivos pra desistir de sonhar e lutar por sua felicidade.
2 comentários:
Ela tem meu respeito.
superando a realidade,meu carinho e respeito...
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