É incrível como tudo aquilo que parece não ter explicação pode ser taxado como um milagre divino, como oportunidade de buscar curas e outros tipos de bênçãos. Há uma época atrás borbulhavam casos de imagens santas que, alegavam algumas pessoas, apareciam numa porta, numa janela, num jardim e até em papel higiênico. Tais imagens reuniam uma procissão de curiosos que faziam fila para rezar e pedir bênçãos entre outras coisas. Se uma mancha que parece Maria realmente faz milagre, não posso afirmar ao certo, mas o poder da fé que as pessoas tem nisso eu creio que é a responsável pelos mais diversificados milagres já relatados pelos crédulos que atribuem tal maravilha.
Um exemplo do fenômeno no Vale do Jaguaribe (Foto: planetavale) |
Diante desse contexto podemos dar início ao tema desse artigo com a seguinte história: Numa quente manhã de Mossoró, Rio Grande do Norte, uma jovem senhora passeava com seu bebê quando parou em frente a uma árvore algarobeira quando percebeu um fenômeno estranho: a árvore transpirava abundantemente e diversos pingos afloravam dos seus galhos dando a impressão de que fossem lágrimas que escorriam fartamente de um triste vegetal. Além disso, havia traços de neve em várias partes da árvore, o que soa bizarro, levando em conta que não chovia há dias na região. Na verdade trata-se de uma espécie de espuma que brota dos galhos e se torna água límpida e passar a precipitar no solo ao redor da árvore. Impressionada com o que havia presenciado, a jovem senhora correu para contar aos demais cidadãos da cidade sobre a ‘árvore milagrosa’! Dentro de pouco tempo centenas de pessoas se aglomeravam no local se benzendo, levantando as mãos para o céu e buscando respingos das milagrosas lágrimas que só poderiam ser uma obra de Deus.
Estranha formação de flocos de neve nos galhos (Foto: planetavale) |
No caso do Rio, a situação, apesar de já ter sido solucionada pela CEDAE (Companhia Estadual de Águas e Esgotos) que alegou que havia próximo a árvore um cano rompido, muitos continuam a acreditar que a árvore chora sim, graças a um milagre de Deus! Mas será que os outros casos se explicam também pelo fato de haver um cano furado no local?
Cartoon de árvores que choram (Foto: ceticismo) |
Moradores de Coelho Neto, no Maranhão, se dirigiram a uma árvore que chorava, munidos de baldes, bacias e garrafas para levar um pouco da água que alguns alegam ser benta. Alguns chegam a ficar horas debaixo da árvore e outros, pasmem, chegam a dormir debaixo delas, para receber uma chuva de bênçãos! Mas o que fazem essas pessoas terem tanta fé num fenômeno em que cientistas já descartaram a hipótese de ser sobrenatural? Talvez pelo contexto em que vivem. Um contexto de miséria, pobreza, fome e desamparo. É o padrão de vida de muitos brasileiros que vivem sem segurança, saúde, educação e emprego digno e são simplesmente esquecidos pelo governo que, em tempos de eleição, prometem o que não tem condições e nem disposição para oferecer ao povo. Este, por sua vez, recorre à ajuda espiritual, e busca em tudo a presença de Deus para lhe confortar de alguma forma.
Gutação (Foto: amigodasciencias) |
Mas e os cientistas? O que dizem a respeito das árvores que choram? A explicação mais recorrente está num fenômeno conhecido como gutação, que é a eliminação de água em estado líquido pelas folhas das árvores. Ela ocorre quando a transpiração é lenta ou simplesmente ausente e a planta necessitando eliminar esse líquido do corpo a faz mediante a gutação, aproveitando a temperatura geralmente baixa (isso não é regra) e a umidade relativamente alta da atmosfera e do solo para eliminar a água em forma líquida (naturalmente uma planta elimina a água em forma de vapor).
Tal explicação se encaixa em boa parte dos relatos de árvores milagrosas e não podemos deixar de considerar outras inusitadas possibilidades como a de um cano furado, próximo ao vegetal, ou mesmo a de que realmente as gotas que precipitam das árvores sejam um milagre divino, afinal de contas, se dizem que a fé move montanhas, fazer uma árvore chorar então é bem mais simples do que parece.
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